domingo, 22 de fevereiro de 2009

Eu tinha que acordar, afinal mexeram no portão. Não é sempre, mas muitas vezes, eu me lembro, mexeram no portão antes de aparecerem aqui para me visitar.

E eu tinha que me preparar para receber, seja qual fosse a pessoa, desconhecida talvez, eu tinha que me preparar. Tinha que buscar meu trunfo, tinha que colocá-lo próximo, eu tinha que ficar pronto. E eu fiquei, mas, desta vez, foi alarme falso.

Iniciou assim mais um de meus dias, iguais, diferentes, não sei, não sou muito apegado ao passado. Vivo assim, um dia após o outro, um minuto após o outro, uma coisa de cada vez.

Me deu fome, fui atrás de um pouco de comida. É o que eu faço quando tenho fome. Minha vida não é difícil, materialmente. Quando quero comida, eu tenho comida. Quando quero água, eu tenho água. Quando quero sossego, bem, nem tanto, mas não posso reclamar também.

Comi algo e fui deitar. Minha cabeça não é tão ativa assim, não me torturo em pensamentos ou me canso de não fazer nada. Eu só fico observando, relaxado, as pernas indo e vindo, os sons que me cercam, os cheiros, as cores.

Tenho distrações bem mundanas. Correr, pular, me esforçar, me cansar até por a língua de fora. Não me enjôo disto, hoje foi legal, amanhã será também, por que não? Por que eu deveria deixar de gostar de algo só por que já fiz demais. Eu não preciso de surpresas, eu não preciso de novos desafios: eu só preciso correr, pular e cansar.

É bobagem pensar no futuro, ele não existe ainda. Não vou conseguir prevê-lo, não há por que me incomodar. Se não tiver água amanhã para eu beber é problema pra amanhã! Hoje tem água fresca, da qual tomo um belo gole depois de um bom e cansativo jogo de bola.

Conhecer um lugar novo, experimentar, descobrir coisas novas, também faz minha cabeça, claro. Sou curioso, mas não penso a respeito, apenas experimento, apenas sinto os sabores, admiro a vista, aprecio o vento que bate no meu rosto.

Não sei se vou viver pra sempre, não sei o que é viver, não me questiono sobre o que tem antes, o que vem depois, por que veio, pra onde vai.

De vez em quando eu brigo com as pessoas. Eu preciso brigar, eu sinto isso, mas não me sinto bem ao brigar. Mas já que tenho que brigar, eu brigo. Preciso defender as coisas, tomar posse delas, é importante por um motivo que desconheço, mas é. Então brigo. Mas não é carregado de ódio, é só por brigar. Passado um instante e já estou calmo, não lembro de mais nada.

Antes todos fossem assim. Antes lembrassem sempre da futilidade das brigas, da mediocridade de suas palavras, da insignificância de seus egos. Lembrassem sempre que não existe importância em nada. Não tivessem inventado tantas coisas que não precisam, não tivesem tido tantas idéias, não tivessem feito tanta bobagem.

Que todos pudessem sair, correr, pular e sentir o frescor da manhã, o vigor da tarde e a serenidade da noite. Deitar no chão gelado no calor e se enrolar no cobertor no frio.

E que fosse tudo simples assim.

Um comentário:

Teen disse...

e que fosse tudo simples assim, né