sábado, 17 de janeiro de 2009

O prato, o irmão e o título sem criatividade

Na TV passava alguma coisa sobre guerras, petróleo ou Faustão. Não lembro ao certo, mas não importa. Mas foi assim que começou naquele domingo.

Antes de continuar, devo esclarecer que eu sou um sedentário hiperativo. É assim: fico o dia todo no sofá, mas não paro de me balançar a perna e rodar almofadas no ar. Já meu irmão é um sedentário hipercrítico. Também fica o dia todo no sofá, mas não para de criticar, fazer bravatas e apontar.

Era Domingo, mesmo. Eu estava com um prato na mão e o rodava em substituição da almofada ausente. Tinha acabado de almoçar um farto prato de comida-sei-lá-qual que caiu ploft no meu estômago. Estava farto e cansado.

Rodar um prato, ou uma almofada, ou mesmo morder um pedaço de plástico é terapêutico para mim. Combate o tédio, ocupa o cérebro de pensar bobagem, evita atrofia dos meus músculos e irrita meu irmão.

Divido meu cérebro em dois setores: o setor que eu comando, o sedentário, e o setor aleatório, o hiperativo. O setor aleatório joga uma moeda ao ar e decide: cara - balançar a perna; coroa - rodar almofada. Na ausência de almofada, ele escolhe um objeto quebradiço qualquer que esteja próximo. Foi a vez do prato.

E não podia passar batido aos olhos de meu irmão. Ele foi ficando gradativamente mais puto. Uma raiva que o preenchia, inchava, quase que prendia sua respiração.

O prato, o irmão, o prato, o irmão, o prato rodando, o irmão ficando puto, e mais puto, e ficando vermelho, e o prato rodando, e aquilo ia sufocando ele, e o prato continuava rodando, e o irmão reputo, e o prato girava voltas francezinhas no ar de outono, e o irmão ia bombando resmungante de panela de pressão, soltando um ventinho pela tampa antes de explodir tudo. O prato rodava - o irmão emputecia-se. O prato girava. O prato rodava. Roda prato, roda.

"Dieeeeeeeego!" - gritou! E o tempo parou - silêncio! Foi um pequeno solavanco no continuum, engasgada de CD riscado. Mas logo continuou: "você... vai... QUEBRAR... OOO PRAAA-TOOOOOOO!".

E seguiu o silêncio. Nesse momento o prato pensou: "Oh meu deus! Foi alguma coisa que eu fiz?" - e por pouco não se espatifou em suicídio. Os pássaros pararam de cantar, o dia apagou e desceu por minha garganta um gole de ar seco. Desliguei o setor do meu cérebro responsável pela rotatividade do prato de imediato.

O prato não rodava mais. O irmão fechou a cara confiante da eficiência de seu semblante opressor. Foi o fim do domingo.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Não teve jeito

Foi assim que trilhei meu caminho para o trabalho hoje de manhã. Era 12h e fazia um calor injusto. Completamente injusto. Mas não teve jeito, eu tinha que ir, eu tinha que estar lá fazendo todas aquelas coisas pois me pagam com dinheiro.

E não é comum pagarem você com dinheiro. Tinha que aproveitar, pois paradoxalmente é com dinheiro que eu vou ter que pagar todas as coisas. Todas elas, todas são trocadas por dinheiro. Troca-se comida por dinheiro, carros por dinheiro, casas por dinheiro, extração de dente se paga com dinheiro, batatas se consegue com dinheiro, repolhos, bolinhas de gude, pijamas, carneiros, papel, e toda sorte de coisas que gente que tem dinheiro tem, são pagas com o dinheiro.

Se não tiver dinheiro, ai você não terá nenhuma dessas coisas. Não importa mesmo quanto importantante seja para você, não importa se vai valer sua vida, não importa se você der sua palavra, sua roupa do corpo ou seus dentes. Sem dinheiro, sinto muito, não vai ter jeito.

E não teve jeito. Cheguei ao trabalho e trabalhei. Trabalhei a tarde toda, não vi o sol se pôr, saí só de noite. Passei no mercado, comprei pão, queijo, coca e alface e paguei com dinheiro. E estava um trânsito justo. Mas o ônibus estava injustamente cheio. Não tenho dinheiro para vir pra casa sentado.

A alface ficou meio amassada da viagem, mas a coca não. Já me alimentei dela, já me hidratei dela e já estou cansado.

Meu dia já acabou e amanhã será outro igual - eu vi na previsão do tempo. Então, se eu não postar nada aqui, é só ler este post de novo.